domingo, 25 de setembro de 2011

O passeio do anjo da fé



Sem aviso, descobrimos um dia que o mundo espiritual não desperta o mesmo entusiasmo de antes.

Continuamos rezando e frequentando os cultos, mas não conseguimos nos enganar; o coração não responde, e as palavras parecem não ter sentido.

Se isto acontece com você neste momento, só existe um caminho possível: continue praticando. Faça suas preces por obrigação, ou por medo, ou seja, lá por que motivo for – mas continue fazendo.

O anjo encarregado de recolher suas palavras – e que é também responsável pela alegria da fé – está dando um passeio. Mas volta logo, e só vai saber localizá-lo se escutar uma prece ou um pedido em seus lábios.

Insista, mesmo que tudo pareça inútil. Daqui a pouco o anjo retorna, e o simples barulho de suas asas fará com que tudo volte a ser como era.


Dom, 25/09/11
por Paulo Coelho - http://g1.globo.com

domingo, 11 de setembro de 2011

Cuide do seu Jardim

 

Observando algumas fotos na internet me deparei com umas que me chamaram a atenção. Eram fotos de jardins de inverno. Esse jardins que são comumente construídos no interior de uma residência, mesmo que ela possua jardim e quintal tradicionais, com a intenção de proporcionar beleza e harmonia no ambiente íntimo daqueles que ali residam ou circulem. Penso que tenham esse nome porque em muitos lugares do mundo o inverno costuma ser rigoroso em chuva e frio, provocando naturalmente o recolhimento das pessoas dentro de suas casas.
Daí, lembrei de uma frase muito comum na minha boca: cuide do seu jardim, me referindo às atitudes que devemos ter para cuidar e preservar algo ou alguém bom em nossa vida.
E como cabeça de geminiana é fértil, de pronto associei o jardim de inverno aos cuidados com nosso mundo pessoal.
E não deixa de ser parecido, pois o cuidador de um jardim conhece bem cada cantinho dele, sabe como lidar com cada espécie ali existente, tem paciência de aguardar o florescimento dos vários tipos de flores, reorganiza a disposição dos vasos visando a harmonia do lugar bem como atender as necessidades de sol e sombra da vegetação. Ele sabe até qual o melhor lugar para se colocar um banco e apreciar melhor o ambiente a qualquer hora do dia ou da noite; e fica feliz com isso, não acha pesado tratar do seu jardim, o trabalho para ele chama-se cuidado.
E com a gente não deveria ser assim? Nosso mundo interior assemelhe-se a um jardim de inverno. É nosso lugar de recolhimento, de convívio íntimo, de soltar as amarras das convenções e sermos nós mesmos. O lugar onde nossa alma anda descalça, ou pelo menos deveria.
E é nesse lugar bem cuidado que recebemos os nossos queridos: família, amigos, amigos de estimação e até algumas visitas de vez em quando que querem conhecê-lo de perto.
É aí que “o bicho pega”. Estamos acostumados com os extremos. Ou fechamos as portas do nosso jardim até para nós mesmos às vezes ou deixamos tudo escancarado à mercê de quem passar por ali, mesmo que seja para estragar tudo.
Não adianta negar nem fingir que não acontece, da mesma forma que muitas vezes cobiçamos o jardim alheio, achando-o sempre melhor e mais bonito que o nosso, outros também enxergam o nosso da mesma forma e nem sempre com a melhor das intenções. O aprender a lidar com isso é dever nosso. Manter nosso jardim bem cuidado e protegido de pragas (animais ou humanas) é tarefa pessoal, mesmo que outros nos ajudem às vezes claro.
Mas infelizmente nem sempre a coisa se dá assim e quando nos damos conta, nosso cantinho especial está abandonado, sem trato ou até destruído por quem não se contém ao ver um lugar bonito que não pertença a ele.
Cuidemos do nosso jardim, ele é parte da melhor parte de nós. Ele testemunha nossos gestos, alegrias, tristezas, sucessos, frustrações, perdas e ganhos. Ele nos acolhe com o perfume das flores ali cuidadas, nos acalenta com os pássaros que ali vão beber na fonte, nos oferece abrigo em momentos difíceis.
E é ele quem nos apresenta aos visitantes que, se forem atentos, conhecerão quem somos.

Cuidemos do nosso jardim!

Boa semana a todos!

domingo, 4 de setembro de 2011

Eu que cheguei



Cheguei pra você como um presente do Céu, como uma lufada de vento numa noite quente.
Cheguei pra você trazendo a alegria de uma gargalhada, a leveza de uma canção de ninar.
Cheguei pra lhe mostrar o outro lado da moeda, e que o “todo dia” de sempre pode ser diferente.
Cheguei pra tocar sua alma sem lhe machucar e pra lhe provar que quando a gente quer, isso é possível.
Sim, o dia pode amanhecer diferente.

Mas você não entendeu o recado do Céu. Não viu que tinha alguém carregando sua alma no colo, sem se queixar do peso que lhe sobrecarregava vindo de tantos tropeços e quedas.
Você preferiu a tristeza da escuridão de sempre, o ar difícil de respirar de sempre, o estrangulamento da alma de sempre.
Você não soube o que fazer com o presente do Céu. Não entendeu a letra da canção. Estranhou o ar gostoso de respirar. A gargalhada soou sem sentido.

O tempo também passou pra você, mas você não se permitiu desenvolver “olhos de ver”. Que pena.
Mais cedo ou mais tarde, você vai procurar o presente e não vai encontrar. Claro, o Céu não permite que um presente enviado por Ele fique eternamente diante da soleira de uma porta que não se abre, pois o papel do presente não é ficar assistindo passivo a vida passar diante dele.
O presente será encaminhado a outras mãos, talvez mais afáveis e generosas.

Não lamente, você teve sua chance.

Eu que cheguei, agora parto.

sábado, 3 de setembro de 2011

A importância das cicatrizes



Quando decidimos agir, alguns excessos acontecem. Diz um velho ditado culinário: “para fazer uma omelete é preciso quebrar o ovo”.
Quando decidimos agir, é natural que surjam conflitos inesperados. É natural que surjam feridas no decorrer destes conflitos. As feridas passam: permanecem apenas as cicatrizes.
Isto é uma bênção; estas cicatrizes ficam conosco o resto da vida, e vão nos ajudar muito. Se em algum momento – por comodismo ou qualquer outra razão – a vontade de voltar ao passado for grande, basta olhar parra elas.
As cicatrizes vão nos mostrar a marca das algemas, vão nos lembrar os horrores da prisão – e continuaremos caminhando para frente.
(Paulo Coelho - http://g1.globo.com)